quarta-feira, 20 de abril de 2011

O profissional de enfermagem na sociedade

O que se observa hoje é um reflexo da forma como foi construindo-se a profissão de enfermagem.
Não é de se estranhar que o contingente de trabalhadores na área de enfermagem seja ainda
feminino.
Outro fato observável é o grande numero de auxiliares em relação a técnicos, já que se levando em
conta o valor diferenciado de salários, é possível a contratação de um maior numero de auxiliares,
pois são os que recebem os menores salários. Alem disso, são se pode negar o fato de que em
diversos serviços não há uma clara diferenciação entre as atribuições do auxiliar e do técnico em
enfermagem.
O auxiliar de enfermagem de hoje, não pode ser imaginado como uma pessoa submissa, cumpridora
de escalas, alheio a todo o processo que envolve a doença, o paciente, o hospital, etc.
Mudou-se o olhar sobre a doença. Hoje se busca a saúde. Assim, o auxiliar de enfermagem também
se desloca de seu local tradicional, o hospital e se faz presente
nas escolas, clubes, empresas, comunidades, etc.
Dessa forma, pode-se dizer que houve uma flexibilização do papel do auxiliar de
enfermagem, passando a ser um ser critico, consciente, capaz de refletir sobre os limites de sua ação
e de intervir em prol do cliente de acordo com os recursos existentes. Para isso, espera-se que ele
seja uma pessoa critica, atenta as transformações do mundo moderno , já que conhecer a realidade
em que esta inserido é quesito fundamental para que sua intervenção possa ser realmente eficaz.
Deve ainda perceber sua co-responsabilidade social a partir do papel que desempenha papel esse
que não se resume ao de um simples cuidador, mas de alguém que interage e modifica a realidade
através de ações de saúde.
A sensibilização para o cuidado em saúde é uma das inúmeras preocupações que o
professor / educador tem tido com o graduando dos cursos de enfermagem. Cabe a nós, como
educadores, instrumentalizar tecnicamente o aluno para o desenvolvimento de sua habilidade
manual, isso não quer dizer, que a técnica em si torna o cuidado sensível (ESPIRIDIÃO &
MUNARI, 2004).
A utilização da saúde mental como tema transversal no currículo de Enfermagem já é realidade em
algumas escolas no Brasil, pois, apesar da saúde mental constantemente estar associada a práticas
que só se desenvolvem em ambientes considerados da psiquiatria, ela pode auxiliar o enfermeiro a
desenvolver durante sua prática assistencial uma atitude de responsabilização, preocupação e
envolvimento afetivo com o outro.O ser humano é um ser singular em um mundo plural que merece
atenção e o enfermeiro merece estar alerta para não cair na ilusão de que o cuidado está atrelado
apenas ao corpo, esquecendo que esse sujeito doente é possuidor de vontade, sentimentos e
expectativas que não podem ser esquecidas
(MONTEIRO, 2003).
Logicamente observamos alunos que desempenham suas atividades com um desvelo digno de
apreciação, outros são extremamente hábeis nas tarefas que lhe foram designadas, mas extrapolam
para o meio externo dos laboratórios de enfermagem atitudes de distanciamento do sujeito de sua
ação, como se estivessem cuidando do boneco no qual aprenderam as técnicas de enfermagem,
como, por exemplo, no caso da administração de medicamentos. Um braço mecânico não sente dor,
não tem uma história de vida, não tem pai, nem mãe. É apenas um artefato de ensino, recurso
tecnológico imprescindível para o desenvolvimento da habilidade manual.
Para nós a idéia de que o bom enfermeiro é aquele que com os anos de profissão passa a ser ‘frio
em suas ações, como se nossa profissão para ser reconhecida deva perder sua humanidade,
esquecendo o sofrimento do outro é perversa. Essa atitude se dá segundo ROCHA et al (2003)
quando esses agentes do cuidar não se permitem fazer contato com suas sensações, seus
sentimentos e emoções.
Deixando de lado as dores humanas, o aluno reproduz esse ciclo vicioso e histórico da frieza e
distância do enfermeiro, esquece da necessidade de acolher e escutar, da necessidade de aprender a
lidar com emoções que são suas, mas, que também são do outro. Quando nos deparamos com essa
afirmação, nos perguntamos. Que cuidado é esse? Que ignora o sofrimento de estar doente, a dúvida
de não saber o que se tem, a espera pela consulta médica ou pela visita que não chega; o odor da
ferida, que mostra à pessoa doente o quanto o nosso corpo é vulnerável. Onde está o cuidado em
instalar uma punção venosa sem ao menos dizer o próprio nome, identificando-se como
profissional.
Todos esses afetam, a nosso ver a credibilidade do nosso fazer cotidiano, não desmerecendo a
necessidade da competência técnica, mas apenas fazendo um alerta para a competência do olhar
amoroso em direção ao outro.
A incursão por uma disciplina extremamente técnica como a intitulada em nosso curso de
Enfermagem – Bases técnicas da assistência de Enfermagem e, em outras escolas de enfermagem,
como Cuidados de acesso ao homem, fundamentos de enfermagem, entre outros; fez-nos lançar um
olhar amoroso em relação ao tema. Nossa formação em saúde mental nos ensina, diariamente quenão devemos ignorar a dor do outro, nem suas dificuldades, ou diferenças no agir e no pensar. Em
contrapartida, observamos e vivenciamos o quanto essas atitudes tão caras à saúde mental em
alguns momentos são deixadas de lado por outras áreas consideradas ‘mais técnicas’. O contato
com uma disciplina em que, geralmente, a habilidade manual é valorizada em detrimento da
necessidade de acolher o outro, (sujeito de nosso cuidado), nos fez desenvolver algumas estratégias
de ensino de técnicas de enfermagem utilizando ferramentas teóricas e metodológicas da saúde
mental.
Durante a discussão da estratégia destacamos algumas questões que foram levantadas pelos alunos,
entre elas;
a. a necessidade do respeito ao outro;
b. a humanização do atendimento;
c. a falta de preparo do enfermeiro para esse tipo de situação;
d. a utilização do termo ‘pacote’ como impessoal desrespeitoso e depreciativo;
e. o vínculo com o paciente;
f. a necessidade ou não de ser mais ‘frio’ nesse tipo de situação;
g. a dúvida se o enfermeiro está pronto para dar a notícia do óbito à família.
São questões que apontam para um caminho que os docentes da área devem considerar quando
construírem seus planos de ensino. Outras estratégias foram criadas por nós para essa disciplina,
considerando sempre que o aluno é fundamental nessa construção e que o
aprendizado técnico científico também deve ser sensível. Sensível aos sentidos, ao outro, a
profissão, à aprendizagem e principalmente a si mesmo.

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